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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O que é um grande cientista?

Estava hoje revendo um texto do blog do jornalista Herton Escobar tão interessante que lembrei dele depois de mantê-lo guardado por quase um ano no meu disco rígido. É sobre o que vem a ser um bom cientista. Fácil? Einstein, Darwin, Lavoisier, é de gente assim que lembramos de primeira. Fizeram descobertas seminais que retumbarão pelos séculos afora. Sim, estes eram muito bons. Mas...

Mas há muitos tipos de cientistas. Pergunta Escobar: "Quem é o melhor cientista, aquele que publica mais, aquele que ensina mais, aquele que patenteia mais, aquele que faz pouca pesquisa mas atrai muitos recursos (financeiros e humanos) para sua instituição….?" "Aquele que publicou 10 trabalhos medianos em 1 ano, ou aquele que publicou 1 trabalho revolucionário em 10 anos?"

De fato, o avanço da ciência não se dá apenas por meio das grandes descobertas. Primeiro, porque essas descobertas só podem acontecer por causa do oceano de pequenas contribuições "feijão-com-arroz" nas quais se sustentam. Feitas por inúmeros cientistas que passam a vida detrás de suas bancadas de laboratório e cujos rostos não vemos, como os da foto acima. Conheço cientistas com grande capacidade de trabalho, que lutam ferozmente nesse tipo de pesquisa "invisível" e que são excelentes profissionais.

Segundo, porque, para a ciência acontecer, deve haver estruturas institucionais que a organizem e financiem. Como a SBPC, como o Ministério da Ciência e da Tecnologia, como as universidades e centros de pesquisa. Qual a grande contribuição para a ciência de Zeferino Vaz, médico pesquisador e reitor da Unicamp de 1965 a 1978? Ele não tem artigos de muito impacto. Mas ele foi responsável direto pela instalação de uma universidade, a Unicamp, e de outras tantas instituições de ensino superior em vários locais, como a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Terceiro, porque a ciência é feita por pessoas. Cientistas têm também que formar novos quadros de pesquisadores, e alguns fazem isso extraordinariamente bem. O físico Gleb Wataghin deu contribuições fundamentais na área dos raios cósmicos nos anos 1940, mas é mais lembrado no Brasil por ter introduzido no país o ensino de relatividade e mecânica quântica e a própria pesquisa sistemática e institucionalizada em física - é chamado "pai da física brasileira" -, e também por ter formado vários cientistas que se tornaram grandes pesquisadores e também grandes formadores de profissionais e desenvolvedores do setor institucional, como César Lattes, Marcelo Damy, Oscar Sala e outros. Seus alunos fundaram as pesquisas em física nuclear no Brasil (mais sobre essas pessoas aqui).

Gostaria de citar este trecho do texto do Helton:
"Precisamos de todos os tipos de cientistas. Precisamos de pesquisadores audaciosos, empreendedores, do tipo Craig Venter, que buscam descobertas revolucionárias e não perdem tempo com “picuinhas”. Precisamos de pesquisadores-professores inteligentes, que se dediquem a formar jovens cientistas competentes e fazer boas pesquisas, sem se preocupar necessariamente em ganhar um Prêmio Nobel. Precisamos também de bons cientistas curadores, educadores, expositores, oradores, escritores, divulgadores, que talvez nunca publicaram um trabalho de impacto, mas que sabem transmitir o conhecimento da ciência para o grande público de maneira inteligente, seja na forma de um livro ou de uma exposição, fazendo com que as pessoas entendam, apoiem e se entusiasmem pela ciência. Etc."
É isso.

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